Sunday, August 10, 2008

 

A OUTRA HISTÓRIA DO JACARANDÁ DOURADO

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Jane e Jack divertiam-se no playground do parque com os seus amigos portugueses MyRita e MyMigu quando viram à distância de um pulo um grupo de "coroas", tão sossegadinhos que só podiam mesmo estar a ver os transformers, as ninja tartarugas mutantes, ou talvez o Panda do Kung Fu. Ei! há ali televisão, bora, vamos até lá!
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Mas não era televisão que tinha parado toda aquela gente velhota ali. Então o que era?
"-É a maior vedeta da cidade. Ninguém passa por cá sem vir ver o Jacarandá Dourado", dizia o senhor que estava no meio do grupo, e que depois viemos a saber que era guia turístico, e que faz aquilo que o avô costuma fazer quando vamos de férias a Portugal, explicou mais tarde MyMigu.

"Jacarandá Dourado é gelado?", perguntou Jane que não conseguia ver o que se passava dentro da roda de gente muito mais crescida que ela.

"Deve ser peixe", afirmou Jack. "Os portugueses gostam mais de peixe que de gelado."

"Jacarandá é pássaro", disse MyMigu muito convencido do que dizia.

"É réptil", garantiu Jane.

"Réptil é o jacaré", esclareceu MyMigu. "Jacarandá é pássaro".

Entretanto, tinham conseguido passar para dentro da roda e perceber o que se passava.

Jacarandá, afinal, é árvore, mas o Jacarandá Dourado é um jacarandá muito especial. Tem o corpo, os braços, as pernas dourados, as folhas, que parecem de mimosas, são prateadas, só as flores, que parecem sinos, são azuis como as de todos os jacarandás que há muitos anos vieram do Brasil para cá.

E porque é que este jacarandá é dourado? perguntou o guia a toda aquela gente. Ninguém sabia, se soubessem não precisavam de guia. Ninguém sabia mas sempre sairam do grupo alguns palpites:

-Isso é mina de ouro que tem por baixo. As raízes do pequenote chegaram à mina e ele começou a crescer como gente grande e dourado como o ouro que tem por baixo.

O Jack disse ao ouvido de MyMigu que deveria ser por causa de tesouro escondido.

Disse o guia: Há quem diga que o Jacarandá Dourado é filho do casamento de um jacarandá com um girassol, mas é uma teoria pateta porque nunca ninguém viu girassóis no parque. Outros dizem que um jacarandá se casou com uma roseira amarela e desse casamento nasceu um jacaranrosela, o Jacarandá Dourado. Mas ao certo, ninguém sabe, concluiu o guia.

"Eu sei ", disse uma senhora que estava sentada num banco ao lado, a tricotar, e ouvira toda a conversa.

Todo o mundo se virou para quem sabia. E ela disse:

"Quando, há muitos anos, era eu uma jovem da idade destes pequenos amigos, o Jacarandá Dourado foi plantado no parque ao mesmo tempo que os seus irmãos, ele era o mais pequeno de todos. Por ser pequeno, o vento foi-lhe contorcendo o corpo e atrasando o seu crescimento. Não era uma árvore bonita, não, quando comparada com todas as outras que cresciam à sua volta. Em Maio, mês em que os jacarandás se cobrem de flores, o mais pequeno deles não conseguia florir. Um dia, quando eu brincava no parque, vi o jardineiro parar em frente dele, abanar a cabeça, e dizer-lhe que mais dia menos dia teria de o substituir por um outro mais elegante. Ninguém mais reparou, mas eu vi o pequeno jacarandá soluçar.

Nessa noite não dormi, atormentada com a sorte do pequeno jacarandá. Levantei-me cedo, estava o sol a nascer, e corri para o parque para junto do pequeno jacarandá. Estava lindo, dourado, o sol iluminava o seu corpo frágil, a brisa fresca da manhã ondulava os seus bracitos de prata a dizerem-me bom dia!, ainda bem que chegaste, estava à tua espera. Abracei-o muito e disse-lhe: gosto tanto de ti, Jacarandá Dourado!

Nunca mais foi o jacarandá pequeno e contorcido. Cresceu e ficou lindo. Tornou-se o maior e mais elegante jacarandá do parque. Nunca mais perdeu as cores com que o Sol dourou o seu corpo e prateou as suas folhas naquela manhã em que nos abraçámos. Passei a vir todas as manhãs, ao nascer do Sol, falar com o Jacarandá Dourado."

E ela fala português ou inglês?, perguntou Jack, por não poder conter as suas dúvidas.

Ela quem? perguntou a senhora amiga do Jacarandá Dourado.

A Jacarandá, respondeu Jack.

"O Jacarandá, como todas as árvores, como toda agente, explicou a senhora, não fala mas entende todas as línguas do mundo desde que se lhes fale de modo que nos façamos entender. Entendes Jack?"

Ninguém respondeu, porque todos tinham entendido.


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