Sunday, January 29, 2006

 



HAPPY BIRTHDAY TO YOU!


Quando o Jack chegou a casa, depois de mais um dia na escola, logo que viu a mãe disse-lhe, muito decidido, e depois de lhe dar um abraço, mesmo antes de tirar os sapatos e as meias, que é o que ele costuma fazer quando chega a casa antes de fazer qualquer outra coisa:

- Mami, posso fazer anos hoje?

A mãe ficou surpreendida com o pedido do Jack, normalmente ele depois de tirar os sapatos e as meias pedia-lhe para ver televisão durante dez minutos e, desta vez, nem se lembrou disso.

- Claro Jack! Toda a gente faz anos, tu também vais fazer anos, já vais fazer cinco! Já és um menino crescido!
- Posso Mami? perguntou o Jack novamente.
- Podes, claro que podes, Jack.
- Já?
- Já?!! O que é que tu queres dizer com isso?
- Já quer dizer agora mesmo, hoje, pode ser ao jantar, pode Mami?

A mãe do Jack achou a pergunta estranha mas respondeu naturalmente:

- Já, não. Tu só fazes anos em Junho, que é o mês em que as pessoas vão à praia, os dias são quentes e muito longos, com muito sol, as árvores estão completamente vestidas de folhas verdes. Agora estamos ainda no Inverno, as árvores não têm folhas, os dias são mais pequenos e frios, por vezes cai neve, depois os dias vão crescer e aquecer, virá a Primavera com muitas flores, flores de todas as cores e só depois chega o Verão quente dos dias longos e quentes que é quando tu fazes anos, porque foi no Verão que tu nasceste, entendes Jack?


O Jack não entendia porque, nesse mesmo dia, tinha feito anos o Jeff, tinha sido uma festa bonita, o Jeff tinha recebido um robot fantástico, falava e tudo, tinha recebido muitas outras prendas, tinham comido um bolo muito bom depois de o Jeff ter apagado seis velas com um sopro tão forte que até ia caindo para trás com a força que fez em cima da cadeira, depois cantaram os parabéns e tudo isso, então porque é que o Jeff podia fazer anos naquele dia e ele não?

- Jack, já te expliquei que o dia de anos das pessoas é o dia em que elas nasceram, o Jeff fez hoje anos porque foi no dia de hoje que o Jeff nasceu, há seis anos... Tu fazes anos daqui a uns seis meses, falta pouco. Antes de tu fazeres anos ainda faço eu! Vais cantar-me os parabéns nesse dia, valeu?
- E depois faço anos, eu, Mami?
- Antes, faz o avô. O avô, agora me recordo, faz anos antes de mim.
- O avô, Mami? Mas porque é que o avô faz anos? O avô já tem muitos, não tem?
- Jack, todas as pessoas fazem anos todos os anos, os mais novos e os mais velhos, um ano por cada ano que passa. E todos os anos temos a Primavera das flores, o Verão quente das praias e das folhas verdes, o Outono das folhas amarelas, de cor de laranja, às vezes vermelhas, e o Inverno frio e da neve, com muitas árvores sem folhas. Depois voltamos à Primavera, e tudo recomeça. Quem nasceu num dia quente de Verão faz anos no Verão. A propósito: temos de comprar uma prenda para o avô, ele vai fazer anos muito proximamente... E vamos enviar-lhe uma carta de parabéns! Que prenda é que gostarias de dar ao avô?


O Jack tinha ouvido a explicação da mãe muito calado e pouco satisfeito, mas ficou feliz por poder escolher uma prenda para o avô:

- Mami, compra um robot para o avô.
- Um robot?!, admirou-se a mãe, mas para que quer o avô um robot?
- Para nada, respondeu o Jack, mas eu acho que ele ia gostar de me oferecer um!
- Jack, isso não é bonito da tua parte, as pessoas não podem pensar apenas nos seus desejos, de querer apenas coisas para si.
- Então damos ao avô um livro, ele está sempre a ler livros.
- Boa ideia, Jack.
- Agora Mami, queria ver televisão.
- Dez minutos!
- OK, Mami... Mami podias fazer um bolo de anos para o jantar?
- Está bem, farei um bolo para o jantar.
- Um bolo de anos, Mami?
- Um bolo de anos, Jack!
- E também me compras um robot?
- Tu já tens um robot, Jack, para que queres outro?
- Para fazer anos, Mami.
- Tu só fazes anos no Verão, Jack, quantas vezes é preciso explicar-te isto?
- E não se pode fazer de conta que faço hoje, Mami?
- Pode, claro que pode. Vamos fazer de conta que tu fazes hoje anos. Quantos queres fazer, Jack?
- Dez!
- Boa ideia. Com dez anos, Jack, já tens idade para vir para a cozinha ajudar-me a fazer o teu bolo de anos.
- Mas eu quero ver televisão...
- Então escolhe: a televisão ou o teu bolo de anos...
- E o robot?
- Já tens um robot. Para que queres dois?
- Ok, Mami. Em que é que posso ajudar?


O Jack não ajudou muito mas aprendeu bastante. Ele nunca tinha visto como se fazia um bolo, como se partem os ovos, como se batem as claras em castelo, como se tudo se mistura com farinha e açúcar, como vai ao forno encolhido e branco e sai de lá loiro e inchado.


No dia seguinte, ao chegar à escola disse a Mrs. Judy:

- Mrs Judy, já sei como se faz um bolo!
- Parabéns, Jack! Como é?


O Jack começou a explicar mas depressa teve de reconhecer que se tinha esquecido de alguma coisa e ficou aborrecido.

- Não te preocupes, Jack, em passando este Inverno, vem a Primavera, depois o Verão, depois o Outono, outra vez o Inverno ... e assim por diante. Quando passarem mais cinco Invernos tu saberás fazer um bolo, estou certa disso! É uma questão de tempo, Jack! Há que saber esperar, não é?
- E não se pode fazer de conta, Mrs Judy?
- Poder, pode, Jack, se for um bolo faz de conta. Um bolo a sério leva o seu tempo. Compreendes, Jack?
- Sim, Mrs Judy, mas em casa fiz um bolo com a Mami. Um bolo de anos!
- Fizeste, Jack? Quem fez anos ontem em tua casa ?
- Faz de conta que fiz eu…
- Que cool, Jack, que cool! Como eu gostava de ter agora a tua idade! Agora faço de conta que não faço. Happybirthday to you, Jack!


Sunday, January 01, 2006

 

DOM CARACOL

Meu Caro Miguel,

Sítio da Couve Tenrinha, 2005-12-25
Bom dia!

Sou o Caracol, não sei se te recordas de mim, daquele caracol às riscas pretas e amarelas que encontraste na aldeia, durante o Verão, quando vieste até cá? Sou esse!!! Hi!Hi!

Achei piada que não conhecesses os caracóis, parece que na cidade onde vives não há caracóis; por aqui, como viste, há caracóis por toda a parte, de todas as cores e tamanhos, estou a exagerar, claro, não conheço caracóis às riscas vermelhas, o que não quer dizer que não existam, eu é que nunca vi nenhum. Também não há caracóis de todos os tamanhos, há caracóis do meu tamanho, outros mais pequenos porque são mais novos e ainda estão a crescer, como tu e a Rita, há também uns caracóis maiores, castanhos, a que as pessoas chamam caracolas ou caracoletas, mas eu não sei porquê.

Um dia, um destes caracolas, que eu encontrei em cima de uma folha de couve, entendeu que eu não podia tomar ali o meu pequeno almoço ao pé dele e eu perguntei-lhe porquê. Respondeu-me ele com voz grossa:
- Eu cheguei primeiro, vai comer para outro lado!

O que era verdade, ele tinha chegado primeiro, como sabes nós, os caracóis deslocamo-nos muito de vagar, os maiores andam mais depressa, logo chegam primeiro, é natural, não tenho culpa de ser mais pequeno do que ele, não achas?, e a couve era suficientemente grande para nós os dois, mas nem discuti, não valia a pena. Não vale a pena discutir com a nossa razão contra a força dos mais fortes, não achas?, o melhor mesmo é ir procurar outro caminho. Foi o que eu fiz: deslizei o mais depressa que pude dali para a parte debaixo da folha. E comecei a tomar, descansado, o meu pequeno almoço.
Estava o caracola a comer o seu pequeno almoço de um lado da couve e eu a tomar o meu do outro lado quando a folha começou a dar de lado, isto é, a contorcer-se para baixo. Quando isto aconteceu eu procurei-me agarrar o mais que podia e quando mais eu me agarrava mais a folha se contorcia, a folha contorcia-se e eu agarrava-me, eu agarrava-me e a folha contorcia-se. Até que, plof! a folha se contorceu tanto, tanto, tanto, que o caracola caiu no chão.

Todos os caracóis que estavam na couve se puseram a rir às gargalhadas. Como sabes, as pessoas gostam de se rir com as quedas dos outros, é lamentável mas é o que acontece. Eu não me ri mas, devo confessar-te, que disse para comigo, foi bem feito, embora não tivesse feito de propósito, se ele me tivesse deixado comer o meu pequeno almoço ao pé dele, do mesmo lado da folha, nada daquilo teria acontecido .

A partir desse dia todos os caracóis das redondezas começaram a olhar para mim com muito respeito, eles andavam todos amedrontados com o caracola e acharam que eu me tinha comportado como um herói, o que não era verdade, eu apenas tinha querido segurar-me à folha para comer o meu pequeno almoço, mas parece que os heróis muitas vezes são heróis à força, também foi esse o meu caso.

Como vez, eu já era muito conhecido e respeitado quando tu apareceste na aldeia e reparaste em mim. Como não me conhecias nem nunca tinhas visto um caracol ficaste muito admirado e ficaste a olhar demoradamente para mim. Os outros caracóis que por ali andavam ficaram, naturalmente, intrigados por que razão tu tinhas reparado em mim e não neles. Evidentemente, foi por uma questão de sorte. Andavam por ali tantos caracóis que tanto podias ter reparado em mim como neles, mas nesta vida a sorte tem muita força, não é? De qualquer modo, eu percebi que ao reparares em mim estavas a reparar nos caracóis todos deste mundo uma vez que, até aquele dia, nunca tinhas visto nenhum. Foi isso mesmo que eu depois lhes expliquei e eles ficaram muito satisfeitos. Ficaram menos satisfeitos, no entanto, porque depois tu me tiraste uma fotografia a mim e não tiraste a eles.

Para que todos ficassem contentes prometi-lhes que iria escrever-te esta carta e pedir que, no próximo Verão, venhas até cá, tragas a máquina fotográfica e tires uma fotografia à caracolada toda. Valeu? Se não eles perdem-me o respeito e deixam de me tratar por Dom Caracol.

Sim, já me faltava explicar-te que, depois de ter derrubado um caracola e ter sido fotografado por ti, a caracolada toda passou-me a tratar por Dom Caracol. Hi!Hi!Hi! Não achas que sou muito cool?

Um abraço e Bom Natal e Bom Ano Novo! Recebeste muitas prendas do Pai Natal? Ao caracola, o Pai Natal deixou um pára-quedas, hi!hi!hi! A mim deu-me um barrete e uma camisola para o Inverno e umas luvas; a camisola faz-me jeito, o barrete assim assim, mas as luvas, para que quer um caracol as luvas, podes explicar-me?

Sempre teu

Caracol





This page is powered by Blogger. Isn't yours?