Tuesday, June 13, 2006

 

O REI PINTOR


O menino Carlos, o Carlinhos para o pai e para a mãe, e também para o irmão Afonso, adorava ouvir o pai tocar violino. O pai dos Carlinhos era o rei Luis. O rei Luis era filho da rainha Maria, a tal a quem os pais chamavam a Mariazinha, quando ela ainda era pequenina e vivia com eles, no Brasil. Portanto, o Carlinhos era neto da rainha Maria, que, quando era pequenina, os pais chamavam Mariazinha.

O rei Luis gostava muito de tocar violino e de traduzir as peças de Shakespeare, um poeta inglês que escreveu muitas e muito boas, talvez as melhores, peças de teatro. Mas o Carlinhos, por essa altura, ainda não sabia falar inglês, a professora dele ainda só lhe ensinara francês, de modo que o Carlinhos gostava mais de ouvir o pai a tocar violino do que a ler as traduções que ele fazia.

De qualquer modo, com um pai, que era rei, mas do que mais gostava de fazer era tocar violino e traduzir peças de teatro, o Carlinhos não sabia muito bem o que é fazia um rei: se era ser músico, e tocar violino, ou ser tradutor de Shakespeare.

O Carlinhos brincava com os amigos, que o visitavam no palácio onde ele vivia com os pais, o rei Luis e a rainha Maria Pia, e o irmão Afonso, depois das aulas que tinha com a professora, uma senhora francesa muito simpática e que o tratava por príncipe.
Mas não era só ela que o tratava por príncipe: só os amigos é que o tratavam por Carlinhos, todos os outros o tratavam por príncipe Carlos, e faziam uma vénia quando falavam com ele, quer dizer dobravam-se um bocadinho para a frente, e só depois é que começavam a falar com ele. O Carlinhos achava as vénias um bocado bizarras, mas como essas pessoas faziam o mesmo com o pai dele, o rei Luis, a mãe dele, a rainha Maria Pia, e o irmão dele, o Afonso, o Afonsinho para os amigos, ele acabou por se habituar.

Um dia, a professora do Carlinhos, depois de fazer mais uma vénia, disse-lhe:

- Príncipe Carlos, hoje vamos começar com as aulas de desenho e pintura.

Ao mesmo tempo que a professora dizia isto, entraram na sala dois mordomos, com uma coisa que a professora disse que era um cavalete, e que tinha três pernas e uma coisa que parecia a cara do cavalete, mas não era a cara do cavalete, era uma tábua onde a professora colocou um papel agarrado com um gancho.

Depois a professora pegou numa pena, molhou o bico da pena num frasco que tinha tinta preta, e que ela disse que era um tinteiro, e desenhou uma bola. Depois fez uma vénia, e disse:

- Agora o príncipe Carlos vai fazer uma bola igual a esta, se faz favor.

O Carlinhos pegou na pena, molhou o bico no tinteiro, e, com muita facilidade traçou no papel uma bola igualzinha à da professora.

- Bravo, disse ela, entusiasmada, sem fazer vénia nenhuma. Bravo! Agora vamos fazer uma bola mais pequena, dentro desta bola grande, aqui, e outra aqui ao lado.

E o Carlinhos, sem qualquer hesitação, fez duas bolas redondinhas, tão parecidas com as da professora, tão parecidas que ninguém se atreveria a adivinhar quem tinha desenhado aquelas bolas, se o Carlinhos, se a professora.

- Agora vamos a fazer aqui um traço, do meio destas bolas para baixo, mas sem chegar mesmo abaixo, continuou a professora, e continuando a não fazer vénia nenhuma.

O Carlinhos fez um traço igualzinho ao dela.

- Agora, Carlinhos, vamos fazer um traço por baixo deste. Assim.

O Carlinhos fez o traço, sem qualquer dificuldade.

A professora ficou satisfeitíssima com o Carlinhos, disse que naquele dia tinha terminado a aula, o Carlinhos podia ir brincar. O Carlinhos olhou para o desenho que tinha feito e pareceu-lhe ver nele a cara de seu pai, o rei Luis, mas faltava-lhe qualquer coisa, e ele decidiu pensar no que é que faltava ao desenho para ser mesmo o desenho da cara de seu pai.

E, nesse dia, o Carlinhos não foi brincar e ficou todo o tempo a desenhar.

Só parou de desenhar quando vieram dizer-lhe que eram horas de jantar.
O Carlinhos já estava com fome, e ele gostava muito de comer. Ainda fez mais uns quantos desenhos, colocou-os debaixo do braço, e foi jantar. Durante o jantar, ao mesmo tempo que comia, olhava os desenhos.
- O que é que tens aí, que estás tão interessado nesse papel?, perguntou-lhe o pai
- É segredo, respondeu sorridente o Carlinhos. Tão sorridente, que ninguém se atreveu a fazer-lhe mais perguntas.

Depois do jantar, voltou para o cavalete, e ensaiou mil e um traços para aproximar o mais possível o desenho com a cara do rei Luis. E só parou quando conseguiu. Olhava-se para o desenho e via-se logo que era a cara do rei Luis.

Naquele tempo já era possível tirar retratos às pessoas utilizando uma máquina fotográfica, mas um retrato feito sem a ajuda de uma máquina era e, ainda é, muito mais interessante.

No dia seguinte, toda a gente ficou admirada com a arte do Carlinhos, aliás, do príncipe Carlos. E, a partir daí, o príncipe Carlos passou grande parte do seu tempo a desenhar e a pintar. Desenhou, e pintou, as aves de Portugal, uma colecção muito bonita que continua a ser publicada em livros muito bonitos, e que toda a gente pode apreciar.

Por outro lado, o príncipe Carlos, também dedicou uma grande parte do seu tempo a navegar e a estudar muitos assuntos relacionados com o mar, os peixes, e a navegação.

Em conclusão: O príncipe Carlos tinha nascido para para ser pintor e cientista.

Mas um dia, o pai do príncipe Carlos morreu, e o príncipe Carlos teve que ser rei de Portugal. Como, desde o tempo do rei Pedro, o pai da Mariazinha, os poderes do rei estavam escritos na Constituição, que é um livro onde está escrito o que cada um deve fazer no país, quais são os direitos e as obrigações de todos, o rei Carlos nomeou, para governar o País, um governo com um presidente.

Mas havia muita gente que não estava satisfeita com o facto de haver um rei, preferiam que houvesse um presidente que fosse eleito por todos os portugueses. O rei Carlos, porventura, também teria preferido que o deixassem desenhar e pintar, navegar e estudar. Mas tinha de ser rei, e teve de tomar algumas decisões quando o governo do país se mostrava incapaz de o fazer. Um dia, depois de algumas complicações no governo, o rei Carlos entendeu chamar um homem para ser chefe do governo, que se chamava João Franco. Tinham dito ao rei Carlos que este João Franco era um homem muito esperto e capaz de governar o país de forma inteligente. Chamou o João Franco e disse-lhe:

- João, o nosso país defronta algumas dificuldades, os ingleses querem tomar posse de algumas terras que possuímos em África, desde há muitos anos, também continuamos com problemas na agricultura, na indústria, na educação, enfim, João problemas não nos faltam. De modo que mandei chamar-te para te dizer que te nomeio chefe do governo de Portugal, para que faças o melhor que puderes pelo nosso país, enquanto eu vou pintando uns quadros e fazendo umas viagens de barco.

O João, ao ouvir isto do rei Carlos, disse para consigo: A partir de agora, se sou eu quem manda, vou mandar que ninguém manda mais nada se não eu.

E, de imediato, deu ordens para que ninguém pudesse reclamar ou protestar.

Mas como as pessoas gostam que haja bons governos, mas também gostam de poder reclamar e protestar, revoltaram-se e atribuíram as culpas ao rei.

Um dia, quando o rei Carlos voltava do seu palácio de Vila Viçosa, acompanhado da rainha Amélia e dos seus filhos Luis Filipe e Manuel, uns revolucionários, que não gostavam do rei, atiraram tiros que mataram o rei Carlos e o seu filho Luis Filipe.

O filho Manuel passou a ser o rei de Portugal, mas foi rei durante dois anos, apenas, porque passado esse tempo os portugueses decidiram que não haveria mais reis em Portugal e que o seu lugar deveria ser ocupado por um presidente que eles quisessem que fosse o seu presidente.

Se tivessem perguntado ao rei Carlos se ele estava de acordo que Portugal passasse a ter um presidente eleito em vez de um rei, talvez ele estivesse de acordo. Afinal, do que ele verdadeiramente gostava era de desenhar e pintar. E navegar.

Comments:
Interessantes contos que narram simplesmente alguns acontecimentos históricos de modo agradável e simpático.

Pena que se tenham interrompido...
 
Só agora aqui cheguei...

Um abraço.
 
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