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A Mariazinha tinha o mesmo nome da avó dela, a rainha Maria Primeira. As pessoas, ás vezes, gostam de dar aos filhos os nomes dos avós, mas nem sempre assim acontece. Com a Mariazinha aconteceu: a avó chamava-se Maria, e ela, a Mariazinha, também.

Outra coisa que as pessoas gostam de fazer é chamar os filhos, quando são pequenos, e às vezes quando são grandes, por um nome mais pequeno ou que queira dizer mais pequeno. A Mariazinha queria dizer que a Maria ainda era pequenina e por isso a chamavam assim.

Mas chamavam assim, os pais, os irmãos, e os amigos. Todos os outros a chamavam princesa. Porque a Mariazinha, e nisto é que está a diferença, não era uma Maria qualquer. A Mariazinha era filha do rei Pedro Quarto, que foi também o Imperador Pedro Primeiro do Brasil, o tal que andou à bulha com o irmão Miguel, por causa de discutirem se os pássaros devem voar ou devem estar na gaiola, e outras coisas assim parecidas.

Depois de muitas discussões e algumas batalhas acerca das liberdades que devem ser concedidas não só aos pássaros mas também aos homens, ganhou o Pedro, o pai da Mariazinha que, ás tantas, disse:

- Viva o Brasil Independente, a partir de agora pode voar sozinho!

Depois o Pedro veio a Portugal e disse:

- A partir de agora o rei vai passar a fazer conforme as pessoas quiserem.

O Miguel não gostou nada da decisão do irmão Pedro, ele achava que as coisas deveriam continuar como estavam, isto é, quem manda é o rei, porque foi para isso que ele nasceu, mas, como perdeu a batalha com o irmão, foi viver para o estrangeiro, para Viena de Áustria.

Nesta altura, o Pedro, o pai da Mariazinha, já era o Imperador do Brasil, e não podia ser ao mesmo tempo rei de Portugal. Depois das discussões com o irmão Miguel, e uma guerra entre os amigos dos dois, o Pedro, que ganhou a guerra, disse para os amigos:

- Quem vai ser a futura rainha de Portugal é a minha filha, a Mariazinha.

Depois voltou-se para as outras pessoas e disse:

- Quem vai ser a futura rainha de Portugal é a minha filha, a Princesa Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Rafaela Gonzaga! Mas vai ser rainha conforme as pessoas quiserem.

A Mariazinha, afinal, tinha um nome muito comprido, porque como os pais eram reis, os avós eram reis, os bisavós também, todos queriam que a Mariazinha tivesse um nome de cada um deles, de modo que tinha aquele nome muito comprido, para o dizer todo de seguida era preciso primeiro encher o peito de ar, e só depois começar.

A Mariazinha tinha nascido no Brasil, o pai dela tinha ido para lá quando as tropas do Napoleão entraram em Portugal, e veio num barco para a Europa quando tinha nove anos, a mesma idade que tinha o pai dela quando tinha ido de barco para o Brasil.

A Mariazinha gostava de brincar às bonecas, à macaca, à cabra-cega, gostava de música e de dançar, gostava de observar os pássaros garridos e cantores do Brasil, mas quando tinha quinze anos passou a ser a rainha Maria Segunda de Portugal, a rainha Maria Primeira tinha sido, como se disse já, a avó dela.

A rainha Maria Segunda, a Mariazinha, para os amigos, tinha dezasseis anos quando se casou com o Príncipe Augusto, mas o Príncipe Augusto morreu pouco tempo depois de ter chegado a Portugal. No ano seguinte, ela voltou a casar-se, desta vez com o príncipe Fernando, foram muito felizes, e tiveram muitos filhos, todos os anos a rainha Maria Segunda tinha um filho.

Mesmo com tantos filhos à sua volta, embora tivesse muitos empregados para tomar conta deles, a rainha Maria Segunda foi uma grande rainha porque Portugal era um país que tinha muita gente pobre e que não sabia ler nem escrever. Ora a rainha Maria Segunda queria que mais gente soubesse ler e escrever, só assim deixariam de ser pobres, mas, também queria que as pessoas fossem livres de escolher o que queriam, e muita gente não estava de acordo, sobretudo os amigos do Tio Miguel.

Para poder contrariar os amigos do Tio Miguel e fazer com que as pessoas pudessem ser mais instruídas, a rainha Maria Segunda teve que ser muito firme e muito decidida naquilo que fazia. Alguns achavam que ela era mesmo teimosa, e talvez fosse. Mas sem muita teimosia, não teria sido possível alterar o que estava mal em Portugal.

Como no tempo em que viveu a rainha Maria Segunda a medicina não sabia o que sabe hoje, a rainha Maria Segunda, quando nasceu o seu filho número onze, não conseguiu que o nascimento desse filho fosse bem sucedido, e morreu. Era ainda muito nova, tinha apenas trinta e quatro anos de idade.

Mas por tudo o que fez durante a sua curta vida merece bem a forma como passaram a chamá-la: a rainha Educadora, porque ela tinha feito pela educação mais do que qualquer outro rei que reinara, até então, em Portugal.

O marido, o principe Fernando, ficou muito triste com a morte da rainha Maria Segunda. Como era alemão, e gostava muito de castelos e palácios, mandou construir um palácio muito bonito mesmo no cimo da serra de Sintra. Depois veio cá para baixo, no sítio do Ramalhão, e pôs-se a lhar para o Palácio, que ele tinha cosntruido para viver com na sua rainha.

Ainda hoje lá está a olhar para o palácio.