Monday, May 22, 2006

 

JOSÉZITO

O menino José, o Josézito, era muito traquinas. Gostava muito mais de brincar do que estudar. O pai dele, o rei João Número Cinco, era muito rico, tinha recebido muito ouro do Brasil, e com esse ouro tinha mandado construir um Convento enorme, onde rezavam muitos frades, que é uma espécie de padres da igreja que vivem sempre dentro das paredes do Convento onde moram. O Convento é tão grande que tem os maiores sinos do mundo, segundo dizem, não posso garantir.

O Josézito gostava muito de brincar ao faz-de-conta.

Josézito, já te tenho dito que não é bonito andares a enganar-me…, era o que se dizia, naquele tempo, mas não sabemos bem se era a propósito deste Josézito ou a propósito de outro Josézito qualquer. Mas podia muito bem ser a propósito deste, porque ele sempre gostou muito de jogar ao faz-de-conta.

Quando o Josézito já tinha 36 anos, já não era mais Josézito mas o José, passou a ser o rei de Portugal. Era uma pessoa muito importante, porque tinha recebido uma herança muito grande de seu pai, mas o País de que ele era rei, tinha-se atrasado bastante relativamente aos outros países europeus, e era preciso recuperar desse atraso.

Mas o rei José não sabia por onde começar. Coçou a cabeça para conseguir alguma ideia, mas só lhe saiu uma ideia da cabeça, por acaso brilhante: como não tinha ideias acerca do que deveria ser feito para melhorar o País, porque sempre tinha jogado ao faz-de-conta, lembrou-se que o melhor era chamar alguém que tivesse boas ideias.
E chamou o Sebastião.
Não o rei Sebastião, porque já se sabe, esse tinha desaparecido a combater no Norte de África, mas um homem, também chamado Sebastião, que tinha viajado pela Europa, e, portanto, devia saber alguma coisa acerca de como governar bem o que está ser mal governado. O que prova mais uma vez que os nomes não fazem com as pessoas sejam melhores ou piores: o rei Sebastião perdeu porque não sabia muito bem o que fazia, este Sebastião venceu porque sabia muito bem o que deveria ser feito.
Foi essa a sua ideia brilhante do rei José, talvez a única, mas mais vale uma que nenhuma, não é?

- Sebastião, a partir de hoje passas a ser o meu primeiro-ministro, passas a dar ordens, faz o que entenderes para governares bem este País, que está muito precisado disso, e já sabes, tu governas mas faz-de-conta que sou eu a governar, entendido?

- Entendido, majestade!

E, a partir desse dia, o José não teve mais com que se preocupar, apesar de terem apatrecido preocupações de toda a maneira e feitio: incêndios em hospitais, num dos Palácios, no Palácio do Bispo, num paiol, que é onde se guardava a pólvora para as espingardas e para os canhões, e, como se todos esses incêndios não bastassem para preocupar o Sebastião Primeiro-Ministro, um dia a terra tremeu tanto em Lisboa que o mar veio para cima da terra, muitas casas caíram, muita gente ficou debaixo das casa caídas: um desastre como nunca se vira.

O Palácio onde morava o rei José também tremeu com o terramoto, assim se chama o tremor de terra quando é muito violento, e o rei disse logo ao Sebastião:

- Sebastião, tens de me arranjar uma casa que não caia em cima de mim nem da minha família, e vê lá se andas depressa porque eu não vou mais para aquele Palácio, prefiro dormir na rua.

- Vou tratar do assunto, majestade! Imediatamente.

E tratou. Mandou fazer uma grande tenda de pano muito forte e disse ao rei José:

- Majestade, o seu novo Palácio está pronto a habitar.

O rei foi ver a tenda, avaliou da resistência do pano e das canas que o sustentavam, e disse:

- Muito bem, Sebastião. Agora vai tratar de resolver os problemas dos outros que perderam as suas casas.

E o Sebastião, com a ajuda de arquitectos, de construtores, e do povo, reconstruiu a cidade de Lisboa.

Um dia, quando o rei José ia a caminho de uma das suas aventuras, alguém disparou uns tiros que o feriram numa perna. Quem foi, quem não foi, depois de algum tempo concluíram que os tiros tinham sido disparados por uns fidalgos, conhecidos do rei José, que não gostavam das suas aventuras.

E o Sebastião fez-de-conta que o rei José queria que os tais fidalgos desaparecessem e o Sebastião fez com que eles desaparecessem. Daí em diante ninguém mais se atreveu a estar em desacordo com o rei José. E o Sebastião passou a fazer tudo o que queria porque tudo, fazia-de-conta, era o rei José quem mandava fazer.

E fez muitas, muitas coisas. Portugal recuperou bastante do atraso que tinha relativamente aos outros países da Europa e passou a ser mais respeitado.
Os reis de Espanha, que continuavam a querer Portugal, acabaram por assinar um acordo onde se comprometiam a não mais importunar os portugueses.

Quando o rei José deixou de ser rei, porque morreu, o Sebastião deixou de poder fazer-de-conta que era o rei José quem mandava. Como já não o queriam para governar, o Sebastião retirou-se para o campo para cultivar flores e frutos.

- De que gostas mais, Sebastião?

- De cerejas, respondia o Sebastião. Aparecem com a Primavera, faz-de-conta que anunciam o renovar do mundo.



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