Saturday, April 08, 2006
O REI JOÃO SEGUNDO DERROTA O MOSTRENGO
O que é um mostrengo? Um mostrengo é um monstro, uma coisa enorme e feia que ninguém sabe bem como é mas que mete medo às pessoas.
Portugal é um país pequeno mas está voltado para o mar e com tanto mar à sua volta, não podendo crescer para o outro lado porque aí já tudo pertencia aos seus primos, os reis portugueses lembraram-se de ir descobrir terras que ficassem para lá do mar.
Quando o João nasceu, ele era bisneto do rei João primeiro, o tal que casou com a Filipa e teve vários filhos que fizeram coisas muito importantes, os navegadores portugueses tinham começado a fazer viagens no mar cada vez mais longas e arriscadas. Mas as pessoas que embarcavam nos barcos tinham medo dos monstros que habitavam no mar.
Foi o Henrique, um dos filhos do João primeiro e da Filipa, quem decidiu criar uma escola onde se aprendesse como andar no mar e ir cada vez mais longe, mesmo que tivessem que derrotar o mostrengo que vivia no mar.
- Eu não vou, eu não sou tolo, diziam alguns, amedrontados com o que ouviam dizer acerca dos monstros do mar.
- Não há monstros nenhuns, garanto que não há, afirmava o Henrique.
- Mas eu vi um, dizia um dos homens que tinha ido já várias vezes nessas viagens ao mar, vi com os meus próprios olhos.
- Então conta lá o que é que tu viste, dizia o Henrique.
- Não sei bem, acho que não sei explicar, mas era assim como uma onda grande, muita espuma, a urrar…Uhaaaaaaaa! Uhaaaaaa! Uhaaaaa! Era assim. Metia medo. Tanto medo que deixei de olhar.
- O que tu viste foi uma onda alta, dizia-lhe o Henrique, as ondas altas são ameaçadoras e fazem um ruído tremendo, mas não passam disso. Se não temos cuidado com elas somos engolidos.
No tempo em que o João era criança ainda havia muita gente que acreditava que o mar era habitado por monstros que podiam voltar os barcos e engolir os navegadores. Mas ao João tinham ensinado que não havia monstros nenhuns, e que os navegadores portugueses deviam continuar a navegar para sul de modo a contornar o continente africano e poderem chegar até à Índia.
E porque é que os portugueses queriam chegar à Índia, no outro lado do mundo, indo pelo mar?
Já contámos, quando contámos a história do primeiro rei de Portugal, a história do rei Afonso, o conquistador por Deus, que os árabes tinham ocupado a península ibérica, que é onde fica Portugal, e tinham chegado também até à Índia, conquistando terras que ficam no outro lado do mundo.
Sabia-se que da Índia os árabes traziam muitas coisas que lá havia e não havia na Europa e com isso ganhavam muito dinheiro. Transportavam essas coisas em camelos, por terra, e não era possível para os outros povos utilizar os mesmos caminhos que eles utilizavam. Então os portugueses pensaram:
- Se não podemos ir até à Índia por terra vamos até lá por mar!
E assim começaram as viagens para ir à Índia.
Aqui mesmo ao lado, na península ibérica, os nossos primos, que entretanto se tinham unido e passado a chamarem-se espanhóis, ao verem os portugueses a navegar começaram a fazer o mesmo. Os portugueses então disseram:
- O caminho para o Índia está ser descoberto por nós de modo que vocês se quiserem ir até à Índia têm de ir por outro lado!
Os espanhóis não concordavam mas depois de muitas negociações concordaram: os portugueses iam até à Índia pelo lado de onde nasce o sol, os espanhóis iam pelo lado onde se põe o sol.
E os portugueses rumaram para o nascer do sol navegando para sul para dar a volta lá mesmo em baixo. Mas na ponta de África, lá mesmo em baixo, quando a África faz um bico é que estava o monstro.
- Não há monstro nenhum!, dizia o rei João, que entretanto se passou a chamar rei João segundo porque o João primeiro tinha sido o bisavô dele. Vou provar que não há monstro nem mostrengo nenhum. E chamou o Bartolomeu:
- Bartolomeu vai com três caravelas dobrar o cabo no fim da África. Vamos mostrar ao mundo que não há monstros e que chegaremos à Índia dentro em breve.
O Bartolomeu lá foi comandando a viagem dos três barcos, a que chamavam caravelas. Quando os navegadores que iam com o Bartolomeu se aproximaram da ponta de África, lá mesmo em baixo, o mar estava furioso e as ondas batiam com toda a força nas rochas. Tiveram medo, pudera, quem é que não teria medo, e alguns quiseram logo voltar para trás.
Mas o Bartolomeu não deixou. Foram navegando, navegando, até que o mar acalmou e eles puderam ver que não havia nenhum monstro mas havia um enorme rochedo que parecia um monstro e que não era o rochedo que roncava mas as ondas furiosas quando batiam nele. Voltaram para trás para dar a boa notícia ao rei João segundo: Havia passagem para a Índia, contornando a África, e não havia monstros nenhuns.
Um dia aparece no palácio do rei João segundo, um navegador chamado Colombo. E disse ao rei João segundo:
- Estive a viver nas ilhas da Madeira, casei-me lá com a Filipa e temos um filho, o Diogo, estudei muito acerca de navegação e sou capaz de ir até à Índia navegando para o lado onde se põe o sol. De forma que posso fazer essa viagem se me derem barcos e marinheiros.
O rei João segundo ouviu o Colombo mas não aceitou a proposta dele. O rei João segundo já sabia que podia ir até à Índia pelo lado onde nasce o sol mas não disse nada ao Colombo.
Que fez o Colombo?
Foi até Espanha e fez a mesma oferta aos reis de Espanha. E os reis de Espanha, depois de muitas hesitações, acabaram por aceitar.
E o Colombo lá foi a caminho da Índia navegando para o lado do pôr-do-sol. Navegou, navegou, e um dia encontrou uma terra, umas ilhas, no outro lado do oceano e pensou:
- Cá está a Índia, fica bem mais perto do que aquilo que eu pensava, e voltou para trás para dar a notícia. Na viagem de volta passou por Lisboa para dizer ao rei João segundo:
- Eu bem lhe dizia que ia descobrir a Índia se navegasse para o lado do pôr-do-sol. Não me quis ajudar e agora aquelas terras são do rei de Espanha.
O rei João segundo ouviu-o e não comentou mas mandou dizer aos reis de Espanha que aquelas terras não eram a Índia e que o caminho por mar para a Índia seria descoberto dentro em pouco. Entretanto, aquelas terras, segundo os acordos que tinham sido assinados, pertenciam a Portugal.
Não estiveram os reis de Espanha de acordo com o que dizia o rei João segundo, e, depois de muita discussão fizeram um outro acordo dividindo o mundo ao meio: metade para ti, metade para mim.
A Índia, claro está, ficava na metade de Portugal.
Na outra metade ficava uma terra que viria a ser muito rica e que hoje se chama Estados Unidos da América. Onde fica Washington, onde fica Reston e Whellwright Court.
Mas disso falaremos na próxima história.
João, João, metade da Terra quantas terras são?